0 o Os lemes, documentos e livros sobre os leme flamengos da madeira, 1 parte

 A Melhor História sobre a Origem e primeira geração de nós Leme é esta:

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A ORIGEM A A PRIMEIRA GERAÇÃO DOS LEME – O texto mais bem documentado e atual

SAPIENS –

Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008

LEME, Margarida Ortigão Ramos Paes – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca. Sapiens: História, Património e Arqueologia. [Em linha]. N.º 0 (Dezembro 2008),

pp. 51- 83.

 

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AS SAUDADES DA TERRA 
de Gaspar Fructuoso 

  Gaspar Fructuoso, o primeiro historiador micaelense, viveu entre 1522 e 1591 e produziu o manuscrito ‘As Saudades da Terra’ no terceiro quartel do século XVI.

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HISTORIA INSULANA DAS ILHAS A PORTUGAL SUJEYTAS NO OCEANO OCCIDENTAL
de Antonio Cordeyro 

  O livro ‘Historia Insulana’  foi publicado em 1717 e conta a história das ilhas portuguesas no Atlântico, além de conter muitas citações genealógicas.

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NOBILIÁRIO DA ILHA DA MADEIRA 
de Henrique Henriques de Noronha 

  Este nobiliário foi escrito em 1700 e conta a genealogia das famílias que passaram a viver na Ilha da Madeira depois do seu descobrimento em 1420.

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Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

1

1 Trabalho apresentado no Seminário de História Política do Mestrado em História, área de História e Arqueologia Medievais, no ano lectivo de 2005-2006.

 

Margarida Ortigão Ramos Paes Leme

 

Resumo:

Pelo presente texto veremos como de Martim Leme, mercador flamengo estabelecido em Lisboa em meados do século XV, descendeu ampla geração portuguesa, que aliada logo de início à grande burguesia e à nobreza do reino, com ela depressa se confunde, participando activamente nos empreendimentos ultramarinos que irão definir Portugal perante o mundo.

Embora se mencionem todos os filhos de Martim Leme, que de Portugal irradiaram para a Madeira e para o Brasil, é dado especial destaque a um seu neto, morto na Ásia, cujo testamento se analisa.

 

Palavras-chave:

Flandres, Portugal, ultramar, comércio, testamento.

Abstract:

By this paper we will see how from Martim Leme, flemish merchant established in Lisbon in the mid-15th century, descends ample Portuguese generation which, allied from the beginning with the high burgeoisie and nobility of the kingdom, soon mixes with them, participating actively in the overseas enterprises that will define Portugal before the world.

Although all the children of Martim Leme are mentioned, some of whom went from Portugal to Madeira and Brazil, a special attention is given to a grandson, who died in Asia, whose testament is analysed.

 

Key-words:

Flanders, Portugal, overseas, commerce, testament. 44 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

Em Setembro de 1521, em Malaca, mas de partida para o Bintão, Henrique Leme escreve o seu testamento

2. Deixa-nos um documento rico em informações que o confirma como membro de uma linhagem de origem flamenga, estabelecida em Portugal desde meados do século XV, e daqui irradiando para a Madeira e para o Brasil, símbolo da dispersão que tanto caracterizou o Portugal do final da Idade Média.

2

O testamento de Henrique Leme encontra-se, inserido numa carta testemunhável de 1547, em Arquivo Nacional da Torre do Tombo (doravante ANTT) – Convº de S. Domingos de Lisboa, liv. 6, fls. 428-453v. No mesmo livro, a fls. 454-454v (aliás 464v, pois que ao chegar à fl. 459v o documento não continua a numeração mas numera a fl. novamente como 450, estando portanto duplicada a numeração das fls. 450 a 454v) existe uma cópia do testamento, provavelmente anterior, que foi a que usámos para a transcrição (Anexo 5). Também em ANTT – Convº de S. Domingos de Lisboa, liv. 40, fls. 87v-100v existe um treslado do testamento feito no séc. XVIII. Há ainda no ANTT, no fundo do Juízo das Capelas e Resíduos, liv. 11 (Capelas do Convº de S. Domingos), fls. 121-134, uma transcrição, também do século XVIII. Por fim, no mesmo arquivo, há uma transcrição já do séc. XIX, na colecção de Registos vinculares, Lisboa, 5, fls. 136v-151v.

3 Tanto mais que, se alguma coisa tem sido escrita sobre os seus membros, não só em obras de genealogia como até em estudos específicos, continua a haver notável confusão, devida essencialmente à homonímia, muito comum nesta época, difícil de ultrapassar na falta de outros elementos identificadores. Há sobretudo um erro recorrente, que condicionou os estudos já feitos, erro este que foi o de confundir as pessoas de Martim Leme pai e de Martim Leme filho e de, consequentemente, misturar as suas actuações. Cf. Lima, 1931: 239-248; Gaio, 1992: 355-356; Morais, 1998: 318-319; Noronha, 1948: 350-357; Leme, 1904: 179 e segs.; Leme, 1980: 1-139.

 

4

Nas várias cartas registadas na Chancelaria de D. Afonso V, Martim Leme é sucessivamente referido como “mercador brugês, nosso naturall” (1456), “nosso escudeiro, mercador, morador em esta cidade de Lisboa” (1463), “nosso scudeiro, mercador, morador em a nossa muy nobre e sempre lial cidade de Lixboa” (1464).

Antes de me debruçar sobre o testamento, tentarei reconstituir as primeiras gerações desta linhagem

3, tomando como ponto de partida aquele é considerado o seu fundador em Portugal, Maerten Lem – ou Martim Leme como aqui foi conhecido – e como ponto de chegada o seu neto Henrique Leme. Veremos como de um mercador estrangeiro descendeu ampla geração portuguesa, que aliada logo de início à grande burguesia e à nobreza do reino, com ela rapidamente se confunde, participando activamente nos empreendimentos ultramarinos que irão definir Portugal perante o mundo.

As origens

 

Martim Leme, flamengo de nação, “brugês de Bruges” como é designado numa carta régia de 1456

4, chegou a Portugal, por via do comércio, em meados do século XV, 45 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

no reinado de D. Afonso V. Embora fosse natural de Bruges

5, a família, talvez estabelecida nesta cidade desde o princípio do século, seria proveniente de Berghes Saint Winoch, no ducado do Brabante, conforme o afirmam alguns genealogistas6. A família já tinha armas, pois na carta de brasão passada a seu filho António, em 1471, D. Afonso V expressamente o diz: “posto que nos bem em conheçimento somos que elle da parte de seu pay pode trazer armas” 7.

5

Terá sido naturalizado português por D. Afonso V que, na referida carta de 1456, o chama de “nosso naturall”.

6 A homonímia que certamente também se verifica nessas regiões, nada o permite garantir, na ausência de documentação mais consistente. Cf. Soeiro, 1624: 494.; Gailliard, 1857: 319-323; Morais, 1998: 318; Noronha, 1948: 351. Para a bibliografia sobre os Lem flamengos, cf. Everaert, 1993: 817-838, que no entanto deve ser lido com extrema cautela, pois não só confunde o pai com o filho (na senda aliás de todos os genealogistas precedentes), como conclui apressadamente, com poucas bases e, inclusive, apresenta erros de datação, como adiante veremos.

 

7

Cf. a carta de armas dada a António Leme em 1471 – Anexo 2.

8 Paviot, 1999: 1-122, doc. 14, p. 38.

9 Paviot, 1999: 70-76, doc. 70.

10

Paviot, 1999: 70-76, doc. 70. Esta questão é muito curiosa pois nos permite penetrar nos circuitos comerciais da época. Wachtere tinha enviado para Lisboa, por via de dois feitores seus, nomeados no texto Jaques Fave (Fane?) e Berthelmy de Busere, determinadas jóias de alto valor (10.310 écus d’or). Aqui, esses feitores dividiram-nas, tendo cada um deles ficado com um quinhão. Delas, parte havia já sido vendida por 2.000 dobras, e Busere empenhara (avoit engaigiéz) a parte restante a um judeu, tendo Fave levado sete peças para Sevilha, onde também as empenhara (mis en gaige) a um cambista por cerca de 1.000 dobras. Estas últimas haviam sido recuperadas por Martim Leme, para o que tivera que fazer “changes et rechanges“, não tendo disso recebido pagamento de Wachtere. Vendera-as e, além do que conseguira com a venda, tinha gasto mais nos câmbios uma avultada quantia que Wachtere lhe devia. Não tinha porém conseguido recuperar as que haviam ficado em Lisboa, apesar de ter pedido a Wachtere que lhe enviasse “lettres de recommendation de nostres tres-redoubtee dame et princesse ma dame la duchesse de Bourgoigne, au roy de Portugal et a la royne”, o que Wachtere aliás providenciou. Todas estas diligências tinham sido feitas por Martim Leme a pedido de Wachtere, que aproveitou o regresso de Martim Leme a Lisboa (teria sido até o próprio Martim Leme que, chegado de Portugal, o informara do mau andamento do negócio) para lhe passar procuração para resolução desta questão, cujo desfecho fica interrompido, pois o processo está incompleto. Há na obra de que nos servimos diversos outros documentos sobre o mesmo assunto (docs. n.º 41, 53, 56-57, 60, 62-63, 66-69, 118, 124-125) mas em flamengo, o que nos impediu de os utilizar devido ao desconhecimento da língua. Aliás, muitas outras fontes também publicadas em flamengo e certamente essenciais para a reconstituição, não só da pessoa de Martim Leme (pai), como dos seus antecedentes, ficaram por explorar devido ao mesmo obstáculo.

Sabemo-lo com negócios em Lisboa, pelo menos desde 1452, onde está como “facteur et compagnon de marchandise” de Zegher Parmentier, negociante com casa comercial em Bruges

8. Ao chegar a Lisboa, traz também procuração de Rombout de Wachtere9, outrossim comerciante flamengo, para lhe resolver um assunto que aqui se encontrava pendente, relacionado com a venda de jóias. Mais tarde, em 1466-1467, terá uma questão judicial a este respeito, em Bruges, com o dito Wachtere10.

Entre 1456 e 1466 uma série de documentos registados na Chancelaria de D. Afonso V dão-nos notícia da sua actividade em Portugal, sempre ligada ao comércio.

46 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

Assim, em 7 de Junho de 1456 estabelece com o rei um contrato para exportação de cortiça para a Flandres tendo como sócio Pero Dinis, estante em Bruges

11. Curiosamente, duas semanas mais tarde, em 21 de Junho, este mesmo contrato é feito com Marco Lomelino12, não sendo mencionado o nome de Martim Leme. Quando, dez anos depois, é dada quitação a Marco Lomelino, já o nome de Martim Leme volta a surgir substituindo Domenico Scotto, que no contrato feito com Marco Lomelino tinha ficado com parte das acções da companhia. Toda esta questão foi desenvolvida por Sousa Viterbo no artigo que escreveu sobre o comércio da cortiça em Portugal13, e por Virginia Rau no seu estudo sobre a família Lomelino14, pelo que deixamos aqui apenas o apontamento.

11

ANTT – Chancelaria de D. Afonso V, liv. 13, fl. 134. Publicado por Viterbo, 1904: 46.

12

ANTT – Chancelaria de D. Afonso V, liv. 13, fl. 50v.

13 Viterbo, 1904: 41-52; Freire, 1908: 327-328, 359-360.

14 Rau, 1956: 56-83.

15 Não é líquido que Martim Leme tenha vivido sempre em Lisboa. Ao regressar a Bruges definitivamente, para aí casar, em Setembro de 1467, já Martim Leme (Maerten Lem) detém o importante cargo de burgomestre da Comuna, e não mais, até à sua morte, deixa de ocupar lugares importantes na administração da cidade, o que não se coaduna com a hipótese de se ter expatriado em Portugal durante mais de quinze anos.

16

Fundada em 12 de Abril de 1414 “na Capella collateral da Mayor da banda da Epistola”, segundo Fr. Luís Cácegas e Sousa, 1767: 345-345. Para esta capela contribuíam os mercadores súbditos do duque da Borgonha com “hum por milhar de tudo o que val a fazenda que lhes entra nas maons, e todas suas nàos pagaõ por tonelada hunm vintem, que como saõ muitas, e a terra de Frandes naõ tem outro genero de vida nem trato, senaõ mercadejar, he hum, e outro rendimento taõ importante, que huns annos por outros passa de dous mil, e quinhentos cruzados quando o comercio naõ està cerrado“, segundo a mesma fonte. Tb. Freire, 1989: 332-334, 359-360; vol. VII, p. 53-55.

17

Documento inserido em outro datado de 1483 que o confirma (ANTT – Estremadura, liv. 6, fl. 165.). Publicado por Freire, 1989: 431-434.

Durante os cerca de quinze anos em que provavelmente viveu entre Portugal e a Flandres

15, Martim Leme foi um importante elemento da comunidade flamenga em Lisboa e certamente membro da Irmandade dos Borguinhões, estabelecida na capela de Santa Cruz e Santo André do mosteiro de São Domingos16. Em 1457 aparece-nos inclusive como procurador dos mercadores flamengos, holandeses e zelandeses17. O documento, datado de 8 de Agosto, apresenta as reclamações dos mercadores súbditos do duque de Borgonha acerca de certos abusos de que eram vítimas por parte das autoridades portuguesas, que os prejudicavam nas suas transacções. Martim Leme não só serve de interlocutor junto de D. Afonso V como fica a seu cargo uma larga soma de dinheiro pertencente a esses mercadores. Tem como credencial suplementar o facto de falar português e flamengo, pois que se subentende que os referidos mercadores eram prejudicados por não falarem a nossa língua. 47 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

Em 1461 é um dos assinantes, juntamente com Gomes Eanes de Zurara, do compromisso da Confraria de Santa Catarina do Monte Sinai, dos livreiros instituída com o patrocínio do condestável D. Pedro, filho do infante D. Pedro, morto em Alfarrobeira

18. Em 1463, por carta régia datada de Sacavém, 25 de Fevereiro, é-lhe dada licença de porte de armas para seis dos seus homens19, o que assinala uma vertente da violência da época, ao exigir escolta armada como garantia da segurança dos mercadores abastados. Nesse mesmo ano, juntamente com os sócios, empresta ao rei 3.000.000 de reais20, dos quais 178.000 foram para custear as despesas da armada de Tânger. A empresa africana, em que D. Afonso V tanto se empenhou, parece também impressionar Martim Leme, pois que mais tarde, em 1471, já regressado a Bruges, armará e enviará à conquista de Tânger uma urca capitaneada por seu filho António21.

18 Viterbo, 1988: 202-203.

 

19

ANTT – Chancelaria de D. Afonso V, liv. 9, fl. 58v.

20

Carta de quitação de trautos, Coimbra, 27 de Setembro de 1464 (ANTT – Chancelaria de D. Afonso V, liv. 38, fl. 61; Estremadura, liv. 5, fl. 142-142v). Publicada por Viterbo, 1988: 49-50.

21

Poderá ter relação com isto o facto de o timbre das armas que constam no seu retrato existente no Hôpital de la Potterie (Bruges), atrás referido, ser um negro em pé. Neste quadro o brasão é esquartelado, tendo no 2.º e 3.º quartéis de prata três merletas e no 1º e 4º quartéis de vermelho cinco vieiras (cf. Anexo 1). Este brasão de armas parece, no entanto, ter sido incorrrectamente reproduzido, uma vez que as armas que figurariam no túmulo de Martim Leme, na Catedral de São Donaciano em Brugues (demolida no séc. XIX), tinham no 1.º e 4.º quartéis de prata três merletas e no 2.º e 3.º de vermelho cinco vieiras (cf. Anexo 1). Chamamos a atenção para o facto das armas de Martim Leme constantes do Livro do Armeiro-Mor conservado no Arquivo da Torre do Tombo, serem: de prata três merletas de negro, sem timbre (cf. Anexo 2). No Tombo das armas dos reis e titulares intitulado… Tesouro da nobreza, 1675, manuscrito da Torre do Tombo, o timbre é apenas uma merleta. Já na obra de Manuel de Santo António – Thezouro da nobreza de Portugal, manuscrito do século XVIII de que existem cópias na Biblioteca Nacional e na Torre do Tombo, o timbre é a merleta no centro de uma aspa de prata.

22

Cartas de legitimação, datadas de Tentúgal, 6 de Setembro de 1464, em ANTT – Chancelaria de D. Afonso V, liv. 8, fls. 66v-67. São 7 cartas, uma para cada um dos filhos, diferindo apenas o nome do respectivo legitimado.

23 Há a possibilidade de Martim Leme e Leonor Rodrigues terem ainda tido mais uma filha, Maria (como a chamam os genealogistas), que não consta do rol dos legitimados. Seria ela a mãe de Henrique Leme.

 

24

AHCML – Livro 1.º de emprazamentos, fl. 24. Publicado por Oliveira, 1911: 339-345. Essa casa será provavelmente a mesma que em 1565 pertencia a D. Diogo de Almeida, neto de sua filha Catarina e

Entretanto, não sabemos quando, durante as suas estadias em Portugal, teve com Leonor Rodrigues sete filhos, legitimados em 1464

22, a saber: Luís, Martim, António, João, Rodrigo, Catarina e Isabel23. Adquiriu uma casa na rua Nova dos Mercadores, que é dada como referência quando do cortejo de aclamação de D. João II em 148524 e em 149925. Nessa casa vivia em 1500 a sua “viúva”, como então se intitula Leonor Rodrigues26. 48 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

de João Rodrigues Pais (cf.

Livro do lançamento e serviço que a cidade de Lisboa fez a el rei nosso senhor no ano de 1565, vol. I, Lisboa: Câmara Municipal, 1947, p. 213). Seria decerto uma casa suficientemente óbvia para servir de referência e bastante espaçosa para albergar doze inquilinos.

25

Alvará, de 4 de Abril de 1499, determinando que se realizem urgentemente certas obras na cidade, in Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa, vol. 4, Lisboa: 1959, p. 50-51 (doc. 36).

26

Esta informação é-nos prestada por uma procuração que Leonor Rodrigues passou ao filho, Rui Leme, para tratar com a Câmara do aforamento enfatiota do “ar” de duas moradas de casas que Martim Leme “pai de seus filhos” lhe tinha deixado na Ferraria, encostadas ao muro da cidade, sobre o açougue que “novamente” se havia construído na Ribeira. (Arq. Hist. da Câmara Municipal de Lisboa – Administração, livro 1.º de emprazamentos (Cod. 32/1), fol. 24: Escritura de aforamento, de 16 de Março de 1500, de umas casas sobre o Açougue da Ribeira, feita a Leonor Rodrigues).

27

ANTT – Chancelaria de D. Afonso V, liv. 8, fl. 63v. Publicada por Viterbo, 1988: 48-49. Poderá estar esta carta relacionada com o processo judicial já referido, em que participa um judeu? (cf. nota 9).

28 Apenas Soeiro, 1624: 494, diz que Martim também vai com o pai para Bruges. De António temos a certeza de ter ido pela carta de armas já referida, que o diz expressamente (cf. Anexo 3).

 

29

Em Bruges, Martim Leme casa com Adrienne Van Nieuvenhoven, em 1467, nascendo-lhe em 1468 o 1.º filho flamengo. Vai tendo filhos e enriquecendo. Vive principescamente e toma parte na vida municipal e política (cf. Everaert, 1993: 383, que no entanto descreve as actividades políticas e municipais de Martim Leme (pai) em Bruges, como se do filho se tratasse). Em 1477 institui, juntamente com a mulher, a capela de Nôtre Dame de la Miséricorde na igreja colegiada de Saint Donatien, com aniversário perpétuo. É também eleito tutor do Hôpital de la Potterie. Desta sua função resta-nos um quadro a óleo, ainda exposto na referida instituição, com a legenda “D. Martinus Lem. Factus Tutor Anno 1478. Obiit 1487”. Esta última data está manifestamente errada pois morre em Lovaina, em 27 de Março de 1485, deixando viúva, 9 filhos e uma casa comercial próspera que é, então, liquidada (cf. Mus, 1964: 88-89). Há alguma confusão com o ano da sua morte e até com o local (Lovaina ou Bruxelas). Quanto à data em que ocorreu – 1484, 1485 ou 1487 – em parte se explica pelo facto de na Flandres o ano começar no dia de Páscoa e em 1485 a Páscoa ter caído em 3 de Abril e portanto, tendo sido o dia da morte 27 de Março, já se estar, segundo a datação actual, em 1485. A data de 1485 é comprovada por em Outubro desse ano a mulher, Adrienne, já ser chamada de “viúva” (cf. Mus, 1964: 88, nt. 392: “in oktober 1485 een volmacht kregen van Adriane van Nieuwenhove, weduwe van Maarten Lem“). Maerten Lem exilou-se em Lovaina depois dos problemas havidos … e aí morreu, tendo a viúva tido alguma dificuldade em recuperar os seus restos mortais para os enterrar em Bruges, na capela familiar na igreja de Saint Donatien (arrasada no século XVIII).

30 Talvez relacionado com Pedro Dinis, sócio de Martim Leme no contrato da cortiça, e também com Martim Dinis, futuro genro de Martim Leme. Seria Álvaro pai deste último?

 

Ainda em 1464 o rei concede a Martim Leme, a quem designa de “escudeiro”, autorização para submeter à justiça cristã os seus credores judeus

27. Por esta altura, em função do teor dos documentos, Martim Leme parece estar a “arrumar” os seus negócios em Lisboa, preparando-se para partir. Efectivamente, por volta do ano de 1466, regressa à Flandres, levando temporariamente com ele o filho António e, talvez, também Martim28.

Se bem que de regresso a Bruges

29, Martim Leme continua a comerciar com Portugal. Em 1470 serve de fiador do negociante João Esteves numa questão que o opõe ao feitor português Álvaro Dinis sobre contrabando e confisco de marfim30. No documento pelo qual conhemos a ocorrência é dito “mercador da nação de Portugal, 49 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

casado e morador na cidade *Bruges+”. Em 1473 importa de Portugal, via Zelândia, dois carregamentos de cortiça

31.

31 Cf. Everaert, 1993: 822 e nt. 4.

32 Cf. Testamento de Henrique Leme, seu neto (Anexo 5).

33 Só Manuel Soeiro o diz e não temos razão para o aceitar sem dúvidas, pois que Manuel Soeiro foi o causador de grandes confusões posteriores.

34

Arquivo Histórico da Madeira, vol. XV, Funchal, 1972, p. 88, doc. 53.

35

Arquivo Histórico Português, vol. 4, Lisboa, 1906, pp. 426, 432, 434. Tb. Faro, 1965: 266.

36

Vereações da Câmara Municipal do Funchal: século XV, 1995: 82. A data referida é 23 de Dezembro de 1481, o que inviabiliza a possibilidade de estar simultaneamente em Bruges tratando dos negócios de Maximiliano, como o pretende Everaert, 1993: 823.

Em Lisboa, onde ficou, Leonor Rodrigues casa as filhas e vê alguns filhos partir – António e João para a Madeira. De Luís não temos mais qualquer notícia, mas Martim, que é referenciado na Madeira em determinadas ocasiões, deve ter ficado em Portugal dando continuidade aos negócios do pai. Rui fica em Lisboa vivendo “de contínuo” na casa do rei, como adiante veremos.

Leonor Rodrigues terá morrido depois de 1512 e antes de 1521, talvez entre 1516 e 151932.

A primeira geração portuguesa

 

A crer que as cartas de legitimação referem os filhos por ordem etária, Martim foi o secundogénito de Martim Leme e de Leonor Rodrigues.

Ao sair definitivamente de Portugal, Martim Leme pai não liquidou de forma definitiva os seus negócios aqui. Tudo leva a crer que Martim Leme filho (geralmente alcunhado de “o Moço” nos documentos) o tenha ficado a substituir à frente de uma casa comercial que teria três pontos de confluência: Bruges, Lisboa e a Madeira (para onde mais tarde irá o seu irmão António).

Embora não seja claro se tomou parte na conquista de Arzila, juntamente com o supracitado irmão

33, não restam dúvidas que se dedicou ao comércio.

Em 1477 é um dos sócios de Fernão Gomes da Mina, seu cunhado, que arrematara as rendas da Madeira e pretendia encampar o contrato

34. Em 1478 quando do empréstimo lançado por D. Afonso V para “acorrer às despesas da guerra e defensão do reino”, “Martim Leme, filho de Martim Leme”, empresta 40.000 reais35.

Em Dezembro de 1481 está na Madeira, certamente tratando de negócios, tendo sido surpreendido a jogar às cartas no Funchal

36 em casa de Rui de Araújo, mas 50 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

é durante todo o ano de 1482

37 que temos mais notícias dele, pelas reuniões de vereação do concelho do Funchal, pois tinha-se comprometido em levar à Madeira uma certa quantidade de trigo e por razões que se desconhecem, não conseguiu cumprir o contrato38. Esta ou outra questão idêntica estaria por resolver em 22 de Maio de 1483 quando o duque de Viseu, donatário da ilha, escreve à Câmara, a pedido de Antão de Oliveira, escudeiro da casa da infanta sua mãe, que o roga “por algumas booas obras que reçeebeo de Martim Leme o Moço” dizendo que “por quoamto elle e Bautista Lomellim fizeram obrigaçam de levarem a esa minha villa do Fumchall soma de pam e o dito Martim Leme nom podera comprir com a sua parte e emcorrera em penna de çertos cruzados como sabees me pidia que asy por lhe fazer merçee como por hy aveer rezam de nom podeer comprir pella saca do pam que ell rey meu senhor defemdeo nestes seus reygnos vos escprevese que da dita penna relevasees o dito Martim Leme por que requere e ouvesees della por quite” 39.

37

Há uma certa confusão nas datas dos documentos publicados nas já citadas Vereações, pois parece que o livro original terá sido reencadernado em data posterior à da sua execução. Só assim se explica que documentos datados de 1482 estejam entre documentos datados de 1481. Também todas as actas datadas de 25 de Dezembro a 31 do mesmo mês já têm a data do ano seguinte, sistema de datação que se praticou em Portugal desde 1422 até 1582, quando se adoptou o calendário gregoriano (cf. Costa, 1933: 23).

38 Assim, somos informados, ainda em Dezembro de 1481, que não teria cumprido o contrato feito com o Concelho (em data ignorada, mas muito possivelmente nesse mesmo ano) de trazer à ilha, juntamente com Baptista Lomelino, 400 moios de trigo (200 cada um) até final do ano. Martim, por não ter conseguido honrar a sua parte, solicita um adiamento, que lhe é concedido até ao seguinte mês de Março. Em Março de 82 Martim Leme só trouxe 80 moios e pede portanto novo adiamento, que lhe é autorizado até Maio. Fica-se também a saber que Baptista Lomelino conseguiu trazer 189 moios, tendo-lhe sido perdoados os 11 moios que faltavam. Em Junho desse ano ainda Martim Leme não tinha cumprido o objectivo de trazer o trigo que faltava, sendo então requerido, conforme previsto nas condições do primeiro contrato, o embargo dos seus bens. Não temos o seguimento desta questão, pois que faltam a actas das vereações dos anos de 1483 e 1484. Cf. Costa, 1995: 63, 65, 69, 82, 88.

 

39

Arquivo Histórico da Madeira, vol. XV, Funchal, 1972, p. 121, doc. 84.

40

É curioso que tenha morrido pela mesma altura que o pai, com quem é sistematicamente confundido, mas pensamos ter conseguido distinguir as personagens. Se outras razões não houvesse, o facto de ter sido apanhado a jogar cartas a dinheiro no Funchal em 1481 (cf. Vereações… p. 82) completamente inviabiliziaria a possibilidade de ter sido o filho de Leonor Rodrigues o Maertem Lem casado em Bruges com Adrienne van Nieuwenhove, que nesse ano foi burgomestre da Comuna, o Martim Leme surpreendido no Funchal em jogatina clandestina.

Sabe-se apenas que antes de 13 de Agosto de 1485 já tinha morrido

40, pois que nessa data, na Câmara de vereação apareceu “Antonio Leme cavaleiro morador na dicta vila e dise que seu irmão Martim Leme que Deus aja ennovara com este conçelho sobre a hobrigaçam em que lhe era dos dozentos moios de trigo que per todo este mes de satembro que ora vem lhe desse aqui postos cem moios de trigo e porque na dicta ennovaçam nom era decrarado se o concelho so queria tomar per ho preço de 51 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

dous mil rs segundo no contrauto primeiro era haffirmado e porcanto elle dicto ante Antonio Leme tiinha mandado por o dicto trigo e orra esperaua por elle lhes pidio que lhe decrarrasem se queriam tomar o dicto trigo per o preço dos dictos dous mil rs moio ou lho largarem que o vendesse como elle quissese e podesse”

41.

41

Cf. Vereações…, p. 103.

42

Carta de armas em ANTT – Chancelaria de D. Afonso V, liv. 21, fl. 90. Transcrita em Freire, 1989: 263, nota (cf. Anexo 3).

43

Em 1483 é ele que informa o Concelho da morte do irmão e se propõe honrar o contrato que este tinha feito, conforme já referido. Cf. Vereações…, p. 103.

44

Bartolomé de las Casas, Historia general de las Indias, vol. I (liv. 1, cap. XIII) , Madrid, 1875, p. 75 e Fernando Colombo, Le historie della vita e dei fatti di Cristoforo Colombo, Veneza, 1571. Cf. Peres, 1960: 343. Tb. Albuquerque, 1965: 701.

45

Rau e Macedo, 1962: 72 (“foi estimado huum canaveall na terra d’ Antoneo Leme“) e p. 79 (“estimamos huum canaveall na terra d’ Antoneo Leme“). Estas terras de António Leme ficavam “nas partes de fundo a saber do Campanairo atee a Fajãa d’ Houvelha“.

46

Vereações…, p. 199, 204, 205, 207, 208, 211, 212, 213, 221, 232, 233, 238, 242, 246, 249, 250, 253, 257, 266.

47 Noronha, 1948: 352-352, que não refere nem Antão, nem Martim. Este no entanto é-nos apresentado, juntamente com o irmão Pedro como tendo feito parte da expedição que em 1513, sob o comando de João Gonçalves da Câmara, foi auxiliar na tomada de Azamor (cf. António Dias Farinha,

 

***

 

Temos pois aqui António Leme, o terceiro filho de Martim Leme e Leonor Rodrigues, seguindo a ordem das legimações. Foi ele, como já referimos, enviado pelo pai, em 1471, à conquista de Arzila. Na sequência deste feito recebe de D. Afonso V armas novas

42 e é dito como fazendo parte da casa do príncipe D. João.

Durante os anos 80

43, encontramo-lo plenamente fixado na Madeira, para onde terá ido possivelmente como representante dos interesses da família naquela ilha vocacionada para o comércio do açúcar. Segundo notícias que nos chegam por via do cronista dos feitos de Cristóvão Colombo, Bartolomeu de las Casas, um dos informadores do descobridor da América foi “un Antonio Leme, casado en la isla de la Madera [que] le certificó que habiendo una vez corrido con una sua carabela buen trecho al poniente, había visto tres islas cerca de donde andaba…” 44

António instala-se no Funchal como cultivador de açúcar

45 e toma parte na vida municipal, tendo sido vereador por diversas vezes entre os anos de 1485 e 149146. É, nos documentos que nos chegaram, chamado de “homem bom” e “cavaleiro”, o que o mostra plenamente integrado nos extractos superiores da sociedade madeirense.

Na Madeira casou com Catarina de Barros, filha de Pedro Gonçalves da Clara e de sua mulher Clara Esteves de quem teve, pelo menos, sete filhos: Martim, Antão, Pedro, Aleixo, Rui, Antónia e Leonor

47. Não sabemos quando morre, mas terá sido 52 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

1989: 373). Quanto a Antão, partiu para o Brasil antes de 1544, quando é referenciado como “juiz ordinário” em São Vicente por Frei Gaspar da Madre de Deus

, Memorias para a historia da capitania de S. Vicente hoje chamada de S. Paulo, Lisboa: Typografia da Academia, 1797, p. 48.

48

ANTT – Corpo Cronológico, pt. 2, mç. 47, doc. 68.

49

Testamento de Pedro Leme, de 15 de Junho de 1552, Funchal (Arquivo Regional da Madeira – Juizo dos Resíduos e Provedoria das Capelas, Tombo dos resíduos, cx. 4, fls. 593-598). Citado, entre outros, por Carita, 1992: 251 e Cameron, 1989.

50

ANTT – Chancelaria de D. Manuel, liv. 28, fl. 110.

51

V. supra nota 25.

52

Livros de contas…, p. 29.

53 Cf. Testamento de Henrique Leme – Anexo 5.

 

54

Do primeiro casamento, foram seus filhos Nuno Fernandes da Mina (cavaleiro da Ordem de Santiago, comendador de Panóias, por carta de 5 de Novembro de 1527, vedor do Mestre D. Jorge, dos “Treze”, pelo menos a partir de 14 de Outubro de 1532, quando esteve presente no Capítulo Geral da Ordem. Cf. Maria Cristina Gomes Pimenta, As ordens de Avis e de Santiago na Baixa Idade Média: o governo de D. Jorge, Palmela, 2002, p. 547 ), Tristão Gomes da Mina (comendador de Santo Eusébio, na Ordem de Cristo, pagem de lança de D. João II), Fernão Gomes da Mina (mestre-escola em Évora), Leonor Gomes (casada com Henrique de Sousa, irmão do conde do Prado), Beatriz Leme (casada com

depois de 1514, ano em que assina um conhecimento de dívida de 15.000 rs de um moio de trigo recebido do feitor da terça parte da renda das Ilhas48.

***

De João Leme, o quarto filho do casal Rodrigues-Leme, só sabemos que foi para a Madeira, onde morreu e foi enterrado na igreja do convento de S. Francisco (demolido no século XIX) “no cruseiro diamte do alltar de Samto Amtonio […] em huma sepulltura que tem huma campan gramde de pedra de Flamdes com huma guarnição de latão em que jas Joam Leme meu tio”

49.

***

 

O quinto filho legitimado, Rui Leme, foi testemunha, em 1494, juntamente com Duarte Pacheco Pereira, do Tratado de Tordesilhas, onde é designado como “contínuo” da casa de D. João II. Em 1497 recebe de D. Manuel o foro de cavaleiro, por carta datada de Évora, 19 de Setembro

50, onde se lê que “querendo fazer graça e merçee a Ruy Leme cavaleiro de nosa casa porquanto esta prestes pera nos servir com homens e armas e cavalos temos por bem e mandamos que daqui em deante etc. e em forma.”

Em 1500 surge-nos como procurador da mãe num contrato de aforamento com a Câmara Municipal de Lisboa. É aí designado como “mercador”

51.

Em 1506 era rendeiro da Alfândega do Funchal

52. Morre antes de 152153.

***

 

Das duas filhas legitimadas, Catarina, certamente a mais velha, casa duas vezes e tem geração de ambos os casamentos

54, bem sucedida económica e socialmente. 53 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

João Lopes de Sequeira, trinchante de D. Manuel e mordomo-mor de D. Beatriz, duquesa de Sabóia, que em 1513 “vendeu” ao rei o castelo de Santa Maria do Cabo de Gué, por si construído) e Urraca (ou Iria?) da Mina (casada com Pedro Correia, senhor de Belas, que em 1522 era donatário da capitania norte da ilha de Santiago e do gado bravo da ilha da Boa Vista, em Cabo Verde). Do seu segundo casamento Catarina Leme teve apenas uma filha, Maria Pais. Esta casou com um filho do conde de Abrantes, D. António de Almeida, que por morte do sogro recebe o cargo de contador-mor, que deste modo passou para a titularidade da família Almeida. Note-se que João Rodrigues Pais teve outra filha, bastarda, com o mesmo nome, Maria Pais, que casou sucessivamente com Vicente Afonso e com Afonso Pestana, de quem teve geração. Cf. bibliografia indicada

supra nota 2.

55

Sobre esta questão e sobre o estatuto social de Fernão Gomes, cf. Costa; 1999: 39-71, maxime 57-63.

56

Por carta de 24 de Agosto de 1474 (João de Barros, Ásia, década I, liv. II, cap. 2). São elas: de prata três cabeças de negros de sua cor com argolas e colares de ouro no nariz, orelhas e pescoço. Timbre: uma das cabeças do escudo. Cf. tb. Freire, 1989: 330.

57

Em 1469 Fernão Gomes era escudeiro e foi armado cavaleiro em 1471, logo após a conquista de Arzila. Expoente daquilo que João Paulo Oliveira e Costa chama de “cavaleiro-mercador” (Costa, 1999: 59), dele nos dão notícias Garcia de Resende (Vida d’el rei D. João II, cap. 24), Rui de Pina (Crónica d’ el rey D. João II, cap. II), Manuel de Faria e Sousa (Ásia portuguesa, tomo I, parte I, cap. 2) e sobretudo João de Barros (Ásia, década I, parte II, cap. 1-2). A Chancelaria régia deixou-nos alguns documentos datados de 1469 a 1481, quase todos relacionados com o comércio (publicados em Descobrimentos portugueses, [compil.] João Martins da Silva Marques, vol. III, Lisboa, INIC, 1988, docs. 47, 65, 81, 83, 97 e Portugaliae Monumenta Africana, vol I, Lisboa, INCM, 1993, docs. 68, 71, 74, 79, 81, 85, 136) e ainda ANTT – Chancelaria de D. Afonso V, liv. 29, fl. 181 (carta de 16.2.1471, para que os seus homens possam andar em “besta muar” enquanto durar o trato da Guiné), liv. 33, fl. 141 (carta de 24.5.1474, de perdão por qualquer erro que possa ter cometido durante o contrato com el-rei), liv. 26, fl. 19v (carta de perdão, de 13.2.1481, a Gonçalo de Abreu, escudeiro, acusado de ter chamado Fernão Gomes da Mina quando ia preso). Ainda em ANTT – Estremadura, liv. 7, fl. 117, se encontra uma carta régia dando-lhe licença para fazer uns moinhos no rio que vem de Alenquer, numa sua terra abaixo da ponte de Vila Nova. Apesar de toda esta documentação, muito pouco se sabe da sua vida, nem sequer a sua ascendência. Outros documentos que nos poderiam elucidar sobre a sua inserção familiar, como testamento, instituição de sufrágios, ou apenas a data da morte e o local de sepultura, são estranhamente omissos para uma personagem que teve um óbvio relevo económico e social e um papel importante na corte afonsina, a merecer um estudo mais aprofundado. O marquês de Abrantes chama-o Fernão Gomes de Brito e di-lo, sem hesitar, filho de Tristão Gomes de Brito (cf. Távora, 1999: 255). Outros genealogistas, como Felgueiras Gaio (Gaio, 1992: 395) e Alão de Morais (Morais, 1998: 653), ignoram as suas raízes. Independentemente da origem social, acumulou certamente uma grande fortuna, que permitiu a seus filhos e netos casarem na média, se não alta, nobreza: Meneses, Noronhas, Sousas, Correias.

58

ANTT – Hospital de São José, lv. 1134, fls. 188v-189.

Pelo primeiro casamento de Catarina, com Fernão Gomes da Mina, a família alia-se à alta finança do reino, pois Fernão Gomes, figura de relevo da burguesia lisboeta, deteve entre 1469 e 1474, como é sobejamente sabido, o monopólio do comércio da Guiné

55. Findo esse período foi agraciado pelo rei com armas novas56, e em 1478 era já “cavaleiro do Conselho” 57.

O segundo casamento de Catarina Leme foi com João Rodrigues Pais, contador-mor do reino, cargo em que tinha sucedido ao pai, Paio Rodrigues, cavaleiro da casa d’ el-rei e do seu Conselho. Diga-se, como curiosidade, que em 1503 João Rodrigues Pais e Catarina Leme moravam em Lisboa na rua Nova d’ El-Rei, junto à igreja de São Julião

58. 54 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

***

Chegamos finalmente à mãe de Henrique Leme. Será ela a Isabela da carta de legitimação? Ou Maria, como a chamam os genealogistas? Não sabemos e nem o próprio filho nos diz o seu nome.

Recorrendo aos genealogistas já citados

59, esta filha de Martim Leme e Leonor Rodrigues teria casado com Martim Dinis, que alguns chamam de Beire, natural do Porto, onde teria vivido. Quanto a ter vivido nesta cidade, não é provável pois, na ausência de qualquer documento que o comprove, só sabemos que morreu e foi enterrada em Lisboa, no convento de São Domingos, “honde jaz mynha mai que santa grolia aja em huma cova que no dicto moesteiro temos”, como o filho refere a propósito da capela que aí manda fazer60. É possível que tenha casado com Martim Dinis, mas o nome do pai também não é declarado por Henrique. Não será descabido pôr a hipótese de este Martim Dinis estar relacionado com Pedro Dinis que foi sócio de Martim Leme pai no contrato da cortiça e até com Álvaro Dinis, que foi feitor régio em Bruges. Seria neto de Pedro e filho de Álvaro? Meras conjecturas, que à falta de provas documentais ficam apenas enunciadas61.

59

Cf. supra nota 2.

60 Testamento (Anexo 5).

 

61

Gaio, 1992: 11, em título de “Beires”, dá-nos Martim Dinis de Beire, casado com Maria Leme, filho de Álvaro Dinis de Beire e neto de Pedro Dinis de Beire.

62

Cf. ANTT – Chancelaria de D. Sebastião, lv. 17, fls. 461v-467.

Uma das suas filhas, Leonor, casa socialmente bem, com Jorge de Albuquerque, primo co-irmão de Afonso de Albuquerque, governador da Índia.

A outra, Guiomar, vai para freira no Convento de Santa Clara de Aveiro, cenóbio patrocinado pela família Albuquerque, o que nos faz pensar que estes netos de Martim Leme terão ficado órfãos muito cedo e talvez a cargo da irmã Leonor, certamente já casada com Jorge de Albuquerque, e de outros parentes. Henrique, a propósito do tio, Rui Leme, recorda concretamente “por criação que em sua casa reçeby”.

Uma terceira filha, Ana, ficou solteira, foi ela a herdeira e testamenteira do irmão, Henrique. À data da morte deste, vivia em casa da prima, Maria Pais, já casada com D. António de Almeida. Morreu em 156362.

Os filhos, Henrique e outro (de que não sabemos o nome, pois Henrique, a nossa única fonte de informação, mais uma vez o omite), vão servir na Índia, destino de tantos filhos segundos da nobreza à procura de fortuna. Partem na companhia do

55 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

cunhado Jorge de Albuquerque. O irmão de Henrique morre antes de 1521 e mais nada sabemos da sua vida. Quanto a Henrique, mercê do seu testamento e da capela que instituiu no convento de S. Domingos de Lisboa, estamos amplamente informados, pelo que passamos a fazer o seu resumo biográfico e a analisar as suas últimas vontades.

 

A segunda geração – Henrique Leme

 

Henrique Leme

63 terá nascido em 1494, pois diz ter 27 anos à data em que redige o testamento, 20 de Setembro de 1521. Fidalgo da casa d’ El-rei, diz-se solteiro e sem “herdeyro que por direito haja de herdar”. Tudo o que tem e deixa foi obtido “em auto de guera em armadas e avemturas”, na Índia, para onde veio de Portugal “muy prove” e “sem ajuda de pai e may nem de nenhuma pesoa”.

63 As informações que se seguem foram retiradas essencialmente de dois documentos apresentados em anexo: Testamento (Anexo 5) e Alvará de desembargo (Anexo 6).

 

64

Relações da carreira da Índia / dir. e coment. Luís de Albuquerque ; transcrição em português actual Maria da Graça Pericão. Lisboa : Alfa, cop. 1989, p. 110.

Sabemos que aos 18 anos chegou à Índia, integrando a armada de doze velas que em 25 de Março de 1512 zarpou de Lisboa, dividida por duas capitanias-mores, a de Jorge de Melo Pereira e a de Garcia de Melo. O capitão da nau Nazaré, uma das oito velas da armada de Jorge de Melo Pereira, era o já citado Jorge de Albuquerque

64. Aí serviu até Dezembro de 1514, auferindo 780 rs por mês. De Dezembro de 1514 até final de Julho de 1516 foi capitão do navio Santo André, em Malaca, ganhando então 50.000 rs por ano. Da capitania deste navio passa para a da nau Ribalta (ou Ribalca?) servindo em Malaca, desde Agosto até Dezembro de 1516, com o vencimento correspondente a 60.000 rs por ano. De novo, entre Dezembro de 1516 e Agosto de 1521, em Malaca, ganha apenas 780 rs por mês. Sabemo-lo em Malaca em Setembro de 1521, pois é então que redige e faz aprovar o seu testamento. Ainda viverá por mais dois anos mas está de partida para o Bintão como capitão do navio Conceição, desde 20 de Agosto, capitania que mantém até final do mês de Outubro desse ano. Desde Novembro de 1521 até 8 Agosto de 1522 passa a ganhar de novo 780 rs por mês, mas nos três meses que se seguem, de 9 de Agosto a 31 de Outubro, é ele o capitão do galeão S. Sebastião. Quando morre, em 6 de Maio de 1523, estava de novo a ganhar 780 rs por mês. 56 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

Vários autores falam da actuação de Henrique Leme no Oriente, mormente em Malaca. Assim, Fernão Lopes de Castanheda

65, Gaspar Correia66, João de Barros67 e Manuel de Faria e Sousa68 dão-nos notícia da expedição ao reino do Pegu em 151669 e das investidas contra o sultão de Bintão em 1520-152170, de que o testamento é testemunho. Ainda em 1522, Henrique Leme é “emviado per Jorge d’ Alboquerqe capitam de Malaqua com embaxada a el-rei de Çumda a fazer comcerto e trato de pazes e amizade”71. Finalmente, num ataque surpresa do sultão do Bintão contra a frota portuguesa, na embocadura do rio Muar, e em consequência de um temporal que se levanta, “morreo afogado Anrrique Leme muyto esforçado cavaleyro”72. Estava-se a 6 de Maio de 152373.

65 Castanheda, 1928: 387-389; liv. V-VI, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1929, pp. 57-59, 125-127, 230-233.

66 Correia, 1860: 474-476.

67

João de Barros, Asia,Década III, Lisboa, INCM, 1992, fl. 68-68v, 130v; Década IV, p. 38, 40, 42-43.

68 Sousa, 1945: 31-32, 53-54.

69 Castanheda, 1928: 387-389; Sousa, 1945: 31-32. Tomás, 1994: 358-359, 386, 390, 436, 451.

70 Castanheda, 1929: liv. V, p. 125-127. Tomás, 1994: 398.

71

As Gavetas da Torre do Tombo, vol. IV, Lisboa, 1964, p. 186 (nº 3169).

72 Castanheda, 1929: liv. V, p. 232.

 

73

Esta data é-nos expressamente comunicada no alvará de desembargo (Anexo 6) quando, reportando-se ao ano de 1523, diz “atee os bj do dito mes de Maio que faleçeo“.

74 Em 1521 já tinha morrido.

 

75

Quem seria Guiomar Rodrigues, mãe de Leonor Fernandes? É esta uma das grandes dúvidas que nos deixa este testamento. Ambas são chamadas de “tia”, sugerindo que ambas pertencem a gerações anteriores à de Henrique, o que poria Guiomar na geração de Martim Leme pai e de Leonor Rodrigues, coincidindo o patronímico de ambas. Seriam irmãs? Mas o apelido “Leme”, dado a Leonor em outros documentos, sugere ser ela também descendente de Martim Leme? Não nos foi possível, por enquanto, deslindar esta questão.

Em Lisboa, para onde não mais voltou, deixou a família mais próxima, que refere expressamente no testamento: a irmã Ana, que já mencionámos como sua herdeira e testamenteira, a outra irmã, Guiomar, freira, esta em Vila do Conde. Quanto a Leonor, mulher de Jorge de Albuquerque, muito possivelmente a primogénita, já era falecida nessa data. Deixou viva, também, a avó “Lianor Rodriguez mai de mynha mãi”

74, e uma tia “Lianor Fernandez filha de Guyomar Rodriguez mynha tya”75, casada com o Dr. João Pires, seu procurador em Portugal. Da restante família refere apenas o tio, Rui Leme, que já tinha morrido, umas possíveis filhas deste, “se haí ouver”, e o primo Tristão Gomes da Mina. Fala, finalmente, de “dom Amtonio d’Almeida e de dona Maria sua molher nosa prima com irmãa”, em casa de quem ficou a irmã Ana. Além destes primos lembra-se de alguns sobrinhos, a saber, “dona Jerónyma d’Albuquerque filha de mynha irmãa dona Lianor e de Jorge d’Albuquerque”, além de “Lionell 57 SAPIENS – Revista de História, Património e Arqueologia, n.º 0, 2008 | Margarida Ortigão Ramos Paes Leme – Os Lemes – um percurso familiar de Bruges a Malaca

d’Albuquerque seu irmão que nestas partes anda”. Com ele, talvez, veio para o Oriente, um seu irmão, que em 1521 já tinha morrido, deixando a avó por herdeira.

É possível que tivesse tido mais irmãos, cujos nomes não nos chegaram, pois, a propósito dos sufrágios que pretende que sejam rezados, além dos que quer que se rezem por “por alma de meu pay e mai”, refere os quer que se rezem “por almas de meus irmãos e irmãas”.

Durante os anos que serviu em Malaca acumulou uma razoável fortuna, que o alvará de desembargo

76 assim contabiliza: “tres comtos setecentos trinta e hum mill oytenta e sete reais que lhe erão devidos de seu solldo e fazenda da Imdia e quinteladas de pimenta”.

76 Cf. Anexo 6.

 

O seguinte quadro mostra bem qual o montante da sua fazenda e como a ganhou:Henrique Leme   Total  Pagos  A haver  Obs. 
De sua fazenda  3.583.068 rs 
71.668 rs  2% – pagos a João Porcel 
30.000 rs  pagos a Guiomar Leme 
3.481.391 rs 
Pelo Caderno da pimenta  184.732 rs 
105.129 rs  18 quintais e 7 arrobas 
79.603 rs  19 quintais e 1 arroba 
Pelo Caderno dos soldos  221.127 rs  de 25.3.1512 a 6.5.1523 
156.153 rs  64.964 rs 
TOTAL  3.988.927 rs  257.821 rs  3.731.087 rs 

 

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Uma resposta to “0 o Os lemes, documentos e livros sobre os leme flamengos da madeira, 1 parte”

  1. vicente paulo dos santos Says:

    eu souu vicente paulo dos satos e minha mae e maraia leme

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